quarta-feira, 30 de maio de 2012

Hamlet Oeconomicus


Por Emanuel Sebag



Há mais coisas entre a taxa de juros e o produto real do que do que sonha nossa vã IS/LM.


Pode soar até inadequada essa simbiose entre teoria econômica e arte, mas é uma relação necessária para aqueles que ousam romper as curtas amarras que aprisionam o pensamento econômico contemporâneo standard. A crítica é oportuna quando vemos em nosso país um período de políticas monetárias expansionistas, ocasionadas pelos recentes e sucessivos cortes na taxa básica de juros – Selic – e uma já desgastada reação contrária ao ciclo de queda em alegação do fantasma da pressão inflacionária. Para além das pueris e barulhentas mecanicidades dos ascensoristas macroeconômicos, a realidade se apresenta muito mais rica e complexa, necessitando de argumentações mais maleáveis e que sejam capazes de dialogar com os movimentos caóticos das variáveis econômicas na não harmoniosa sinfonia capitalista.


A resposta dada pelos defensores da atual política monetária bebe da análise da conjuntura de baixo crescimento do Brasil. É necessário primeiramente compreender, como já apresentado em um recente comunicado do Ipea, que os efeitos de políticas monetárias são assimétricos sobre inflação e crescimento dependendo das características do ciclo econômico presente. Em uma conjuntura de baixo crescimento, a pressão da demanda sobre a estrutura produtiva é reduzida e o risco de geração de um processo inflacionário por uma expansão monetária é duvidoso. Porém, como afirma nosso “Hamlet oeconomicus”, existem outras consequências oriundas de uma política econômica que não conseguem ser interpretadas por um modelo standard. Se o atual ciclo de queda da Selic se prolongar até o fim de 2012, encerrando o ano nos já sinalizados 8%, o governo federal deixará de gastar cerca de R$56 bilhões com despesas da dívida, abrindo espaço no orçamento para a ampliação de políticas fiscais. É isso mesmo? Então uma política monetária expansionista pode estimular políticas fiscais e ampliar o produto sem evocar o fantasma da inflação? Pobre IS/LM... Como interpretar a realidade econômica brasileira por um modelo econômico voador, que não é capaz de firmar seu pé na terra? A aparente transparência e generalidade das soluções apresentas pelo modelo dão ares de uma possível aplicação universal. É uma pena que as especificidades da realidade concreta assustem tanto a academia.


Hamlet parece ter mais a nos ensinar sobre macroeconomia do que alguns livros texto que circulam pelas universidades. Além da já citada contribuição, seu clássico dilema dramático – “ser ou não ser?” – quando se questiona sobre vingar ou não a morte de seu pai, assassinando seu tio Cláudio, é capaz de dizer muito sobre a condução da política econômica em nosso país. Sem o menor sentimento ufanista, frente ao ultraje da destinação de mais de 47% dos recursos da Lei Orçamentária Anual para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, é necessário ser, leia-se agir, como Hamlet assim o fez. A condução da política econômica parece se aproximar mais da arte do que da ciência exata, como lembra Maria da Conceição Tavares, causando arrepios nos economistas stricto sensu.

Nota: Emanuel Sebag de Magalhães é aluno do curso de Ciências  econômicas-UFC

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